Filho de Érico Veríssimo, um dos maiores nomes da literatura nacional, Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre, em 26 de setembro de 1936. Aos 16 anos, foi morar nos EUA, onde aprendeu a tocar saxofone, hábito que cultiva até hoje – tem um grupo, o Jazz 6. É jornalista, mas “do tempo em que não precisava de diploma para exercer a profissão”. Antes de se dedicar exclusivamente à literatura, trabalhou como revisor no jornal gaúcho Zero Hora, em fins de 1966, e atuou como tradutor, no Rio de Janeiro. Casado há mais de 30 anos com Lúcia Verissimo (“não é a atriz, não é a atriz!”), sua primeira “namorada séria”, tem três filhos: Fernanda, Mariana e Pedro.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Little Brazil - O Globo; Bom Dia (01/01/2012)


"New York Times" publicou uma matéria sobre a invasão brasileira de Miami, onde a nossa nova classe média está indo comprar apartamentos, eletrodomésticos, roupas e bolsas de grife — tudo mais barato lá do que aqui.

Segundo o "Times", só o Canada manda mais gente para a Flórida do que o Brasil, mas os canadenses gastam menos. Os comerciantes e as autoridades de Miami pressionam o Congresso americano para acabar com o visto ou facilitar sua aquisição por brasileiros, e mudanças havidas aqui recentemente na concessão dos vistos — antes irritantemente racionados — já são resultado da crescente importância dos brasileiros para a economia deles.

É verdade que antes de o Brasil ocupar Miami, Miami já tinha ocupado partes do Brasil, como nota quem passa pela Barra, no Rio, onde cada terceiro outdoor ou nome de prédio ou loja é em inglês. O que aconteceu foi que a Miami original ficou mais acessível a brasileiros do que as cópias locais.

Imagino que em breve estaremos desafiando os cubanos como principal força politica latina na região. Entre parênteses: uma vez fui convidado para uma Feira do Livro em Miami e acabei num jantar oferecido aos visitantes pela comunidade cubana.

Nascido em Porto Alegre, a um pulo de Buenos Aires e Montevidéu, julguei que não teria nenhuma dificuldade em pelo menos acompanhar as conversas. Inocente pretensão. Fora uma ou outra interjeição dirigida, adivinhei, ao Fidel, não entendi uma palavra. Não falavam um espanhol reconhecível. Talvez o espanhol do exílio seja outro.

De qualquer maneira, invejei o Milton Hatoum, meu companheiro de mesa, que não só entendia tudo como falava o idioma misterioso. Se pudesse voltar no tempo sabendo o que sei hoje, meu pensamento na ocasião seria: esperem só, cubanos. Um dia tudo isto será nosso. E em vez de Big Havana se chamará Little Brazil, e em vez de pseudoespanhol falaremos português, e os nossos cartões de crédito cortarão os ares. Fecha parênteses.

Somos a sexta economia do mundo, é mole? Natural que o novo status traga uma certa ostentação. Comprar um condomínio com vista para o mar em Miami é um bom negócio porque na Barra seria mais caro, embora o mar seja o mesmo.

Mas não é só isso. Olhando o mar da sacada do seu apartamento em Miami você pode dizer que realizou o sonho de ser americano que move tantos da sua geração. Você é um proprietário no primeiro mundo, lá onde "delivery" é delivery mesmo, e tem a escritura para provar.

Claro que seu orgulho seria maior se o fato de o Brasil ter ultrapassado a Inglaterra para se tornar a sexta economia do mundo significasse um crescimento mais bem compartilhado, e um atendimento social mais, bem, inglês, e mais brasileiros com saneamento básico do que fazendo compras em Miami. Mas isso é história para outros tempos.

0 comentários:

Postar um comentário