Bud Schulberg era um escritor de segundo time que ficara conhecido nos anos 40 por um romance curto, "What Makes Sammy Run?" ("Por que corre Samuelzinho?"). Filho de um produtor de cinema, trabalhou como roteirista e foi nesta condição que acompanhou o também roteirista Fitzgerald numa locação em que Fitzgerald bebeu tanto que acabou sendo demitido, e morreu pouco depois. Foi este episódio que Schulberg contou, com nomes trocados, em "The Disenchanted".
Chamado a depor diante da comissão do Congresso que investigava "atividades antiamericanas" em Hollywood depois de ser acusado de comunista, Schulberg se penitenciou dando o nome de vários colegas que entraram na lista negra dos incontratáveis na indústria cinematográfica.
Muitos dos dedados se exilaram, outros conseguiram trabalho com pseudônimos ou como escritor fantasma e houve alguns suicídios.
Schulberg escreveu o roteiro de "Sindicato de ladrões", dirigido por Elia Kazan, outro que também tinha entregado colegas, e os dois fizeram o que é considerado uma apologia da delação — além de um dos melhores filmes de todos os tempos.
Marlon Brando denuncia a corrupção num sindicato portuário para o bem da nação e a raiva dos seus ex-companheiros. O paralelo com o comportamento de Schulberg e Kazan na inquisição do Congresso não é clara, o filme não funciona como justificativa. Mas triunfa como cinema. Que importância, afinal, deve ter a política, ou mesmo o caráter, do artista na apreciação da sua arte?
Numa viagem de volta às minhas leituras e entusiasmos de garoto eu acabaria fatalmente desencantado, como no título de "The Disenchanted", que era um livro bem menos importante do que eu pensava.
Por exemplo: no filme "Gunga Din", que vi umas dez vezes, o certo era torcer pelos nativos, não pelos imperialistas ingleses. Mas ninguém ainda tinha me dito!
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