O romance Os Espiões é a sexta narrativa longa do autor. Curiosamente, é o primeiro livro que o próprio Veríssimo considera “seu”, do início ao fim. A proposição parece estranha mas a explicação é simples: é a primeira vez que Veríssimo escreve um romance por impulso próprio. As demais narrativas longas do autor (O Jardim do Diabo, O Clube dos Anjos, Borges e os Orangotangos Eternos, O Opositor e A Décima Segunda Noite) nasceram todas ou de provocações ou de encomendas das editoras.
Como é praxe na obra de Verissimo, o livro tem um registro que trabalha a meio caminho entre a paródia e o exercício da literatura de gênero – desta vez, menos o policial propriamente dito, trabalhado em quase todos os outros romances. Agora, Veríssimo mira em um ramo particular da literatura de mistério: o thriller de espionagem praticado por seu ídolo John Le Carré. Mas, sendo Veríssimo, é claro que o escritor subverte o gênero.
"É meio difícil de resumir, é uma história de espionagem que não se passa no mundo da alta espionagem e sim uma cidade fictícia do interior do Estado – conta o autor, que, é óbvio, imprimiu a marca de seu humor pessoal à obra. – É um pouco de paródia e ao mesmo tempo não é. O livro tem humor, mas acaba mal. É a história de um cara que trabalha numa editora e um dia recebe um original de uma mulher do Interior do Estado, e ele se apaixona por ela por causa do texto, e sai à procura para tentar descobrir quem é."
Outra vez, portanto, Veríssimo escreve um romance que tem no próprio ato narrativo seu eixo temático. Seus romances são sempre conduzidos na primeira pessoa, e jogam em maior ou menor grau com as fronteiras entre o personagem encarregado de contá-la e o autor, Veríssimo, que concede a ele tal missão. A metalinguagem e a presença da literatura como tema e pretexto é recorrente.
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