Filho de Érico Veríssimo, um dos maiores nomes da literatura nacional, Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre, em 26 de setembro de 1936. Aos 16 anos, foi morar nos EUA, onde aprendeu a tocar saxofone, hábito que cultiva até hoje – tem um grupo, o Jazz 6. É jornalista, mas “do tempo em que não precisava de diploma para exercer a profissão”. Antes de se dedicar exclusivamente à literatura, trabalhou como revisor no jornal gaúcho Zero Hora, em fins de 1966, e atuou como tradutor, no Rio de Janeiro. Casado há mais de 30 anos com Lúcia Verissimo (“não é a atriz, não é a atriz!”), sua primeira “namorada séria”, tem três filhos: Fernanda, Mariana e Pedro.

sábado, 10 de dezembro de 2011

O exemplo - O Globo; Bom Dia (08/12/2011)


Da série "Ironias da História". A Alemanha comanda a reação europeia à crise monetária porque é a economia mais estável da região e a que melhor conserva esta estabilidade, e assim tem a autoridade moral para exigir austeridade dos outros.

Vários analistas econômicos já estão começando a duvidar que austeridade, cortes em investimentos dos governos e desmonte dos sistemas de bem-estar social sejam a saída da crise, com medo de que o remédio é que acabe matando o paciente.

Mas todas as dúvidas esbarram na resolução da frau Merkel e na sua certeza de que nesta hora todos devem ser um pouco alemães, custe o que custar.

Não é a primeira vez que a Alemanha dita, ou tenta ditar, os destinos da Europa, nem a primeira vez que se apresenta como um modelo a ser imitado, ou seguido, por todo o mundo. Pode-se mesmo dizer que a história da Europa nos últimos dois séculos foi a história da sua acomodação em torno da Alemanha e suas pretensões políticas, econômicas e geográficas — uma acomodação nem sempre possível e que em duas ocasiões acabou em guerras mundiais.

Depois da sua aventura nazista, o modelo alemão passou a ser não o da arregimentação totalitária, da suposta superioridade racial e da inconformidade com suas fronteiras, mas de eficiência e de recuperação industrial, e da frugalidade dos seus cidadãos, que agora seria exemplo para todos.

As multidões que enchem as ruas da Grécia, da Espanha e etc., protestando contra uma austeridade que castiga quem tem menos culpa pela crise, talvez tenham levado alguns analistas a reverem sua ortodoxia, mas não comoverão os alemães, que têm tido a última palavra nas medidas para evitar a degringolada final.

Ironicamente, depois de invadir meia Europa durante as duas grandes guerras e ser rechaçada, a Alemanha finalmente consegue transformar os europeus em súditos, pelo menos do seu reich econômico. E sem disparar um tiro.

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