Filho de Érico Veríssimo, um dos maiores nomes da literatura nacional, Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre, em 26 de setembro de 1936. Aos 16 anos, foi morar nos EUA, onde aprendeu a tocar saxofone, hábito que cultiva até hoje – tem um grupo, o Jazz 6. É jornalista, mas “do tempo em que não precisava de diploma para exercer a profissão”. Antes de se dedicar exclusivamente à literatura, trabalhou como revisor no jornal gaúcho Zero Hora, em fins de 1966, e atuou como tradutor, no Rio de Janeiro. Casado há mais de 30 anos com Lúcia Verissimo (“não é a atriz, não é a atriz!”), sua primeira “namorada séria”, tem três filhos: Fernanda, Mariana e Pedro.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Luis Fernando Verissimo de volta às origens: Escritor edita o Segundo Caderno do jornal Zero Hora desta quarta-feira (4)



 - Divulgação / clicRBS

Foto:Divulgação / clicRBS

Foi a mais divertida, e disputada, reunião de pauta do Segundo Caderno desde que frescuras como música, cinema e teatro trocaram as páginas do fundão do jornal por um latifúndio produtivo chamado "caderno de variedades" (ou Vale das Bonecas, segundo os colegas mais invejosos...). Isso aconteceu no final dos anos 60, mais ou menos na mesma época em que um rapaz de pouco mais de 30 anos fazia sua estreia no jornalismo na igualmente iniciante redação de Zero Hora.

Para produzir esta edição especial pautada e comentada por Luis Fernando Verissimo, a equipe de repórteres e editores do Segundo Caderno reuniu-se na última quarta-feira com um respeitado veterano do jornalismo cultural, portanto. Bom, mais ou menos.

Aos 74 anos, Verissimo é um dos autores mais queridos do país e também um dos que mais vendem. Mas o que o futuro escritor produziu nas paginas de ZH, entre 1967 e 1970, pode ter entrado para a história da literatura, mas dificilmente entraria para a história do jornalismo sério. O garoto aparentemente muito circunspecto, filho do escritor local mais famoso da época, contribuiu para esculhambar ainda mais um coreto que já não era lá muito santo. Produzindo pequenos textos supostamente informativos para o guia da programação cultural, o redator de poucas palavras e raros sorrisos não tinha o menor pudor em inventar lugares que não existiam (mas deveriam), como um certo CTG erótico de nome Ai Bota Aqui, e figuras do mais alto calibre social, como o grã-fino Aldo Gabarito. 

Verissimo tinha a pachorra de assinar até mesmo a página de horóscopos – embora garanta que são totalmente falsos os boatos de que ele é a verdadeira identidade secreta da astróloga Zora Yonara (confira o talento do "astrólogo" Verissimo e uma tira inédita de As Cobras na página 11). O Rio Grande do Sul e o mundo não sabiam ainda, mas começava a nascer ali, no embrião do Segundo Caderno de Zero Hora, o escritor que conquistaria o país poucos anos depois.

Nesta quarta-feira (3), o leitor de Zero Hora vai encontrar reportagens sugeridas por Luis Fernando Verissimo — algumas reproduzidas nesse site. Como acontece em qualquer redação de jornal, ideias de pautas muitas vezes nascem das experiências pessoais dos editores. Não foi diferente com nosso editor convidado. Saxofonista da banda Jazz 6 há 15 anos ("tocamos até em inauguração de pastelaria"), Verissimo sugeriu uma reportagem sobre a já antiga tradição jazzística da Capital (página 10). Fã de filmes italianos desde guri, pautou uma reportagem sobre a perda de influência do cinema que produziu Fellini, Visconti e Antonioni (página 9). 

Falando nisso, durante a reunião, Verissimo contou que teve a descabida sorte de ser espectador involuntário das filmagens da clássica cena na Fontana di Trevi do filme A Doce Vida, de Fellini, com Anita Ekberg e Marcello Mastroianni. Um repórter muito cético, como devem ser todos os repórteres (até os de Cultura), desconfiou:

— Será que o senhor não se enganou?

— Pô, a Anita Ekberg dentro de uma fonte não dá pra confundir...

Há ainda reportagens sobre as obras do Multipalco (páginas 6 e 7), que Verissimo esteve visitando há algumas semanas, sobre livros (página 8) e sobre "a arte de ficar" (páginas 4 e 5) — a respeito de artistas que optam por permanecer morando em Porto Alegre, como ele.

Foi uma experiência inesquecível para o Segundo Caderno, concretizada em uma edição que, nós acreditamos, os leitores vão gostar muito também. Por tudo isso, só nos resta agradecer.

Obrigada, Verissimo, por ter topado a brincadeira (a casa é sua, volte sempre!).

Obrigada, Verissimo, por ter trocado o jornalismo cultural pela literatura. Os suplementos de cultura perderam em bom humor (e cara de pau), mas o Brasil ganhou um cronista inigualável.

E obrigada, principalmente, por ter exercido a arte de ficar. Porto Alegre é muito mais inteligente, e divertida, quando o pai de Aldo Gabarito está por perto.

Fonte: Site Jornal Zero Hora

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