Filho de Érico Veríssimo, um dos maiores nomes da literatura nacional, Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre, em 26 de setembro de 1936. Aos 16 anos, foi morar nos EUA, onde aprendeu a tocar saxofone, hábito que cultiva até hoje – tem um grupo, o Jazz 6. É jornalista, mas “do tempo em que não precisava de diploma para exercer a profissão”. Antes de se dedicar exclusivamente à literatura, trabalhou como revisor no jornal gaúcho Zero Hora, em fins de 1966, e atuou como tradutor, no Rio de Janeiro. Casado há mais de 30 anos com Lúcia Verissimo (“não é a atriz, não é a atriz!”), sua primeira “namorada séria”, tem três filhos: Fernanda, Mariana e Pedro.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Silogismos sujos - O Globo e Bom Dia (15/05/11)

Silogismo, nos diz o dicionário, é uma dedução pela qual duas premissas levam a uma terceira, ou a uma conclusão lógica. Por exemplo: todo homem é mortal, eu sou homem, logo tchau.

O dicionário enumera vários tipos de silogismos, mas não inclui o que se pode chamar de silogismo aético — ou a dedução lógica que leva a uma conclusão imoral, ou pervertida. Exemplo: se não fosse a influência da cultura negra a civilização ocidental seria muito mais sem graça — para não falar em sem ritmo e sem colorido — do que é, logo foi bom existirem a escravatura e a diáspora forçada de negros da África.
Outro exemplo, ainda pior: é inimaginável a cultura americana sem a contribuição de intelectuais e artistas judeus expulsos da Europa pelo fascismo, foram os nazistas que os expulsaram, logo o fascismo não foi tão ruim assim.

(Ninguém faz esse tipo de dedução a sério mas há algo de silogismo sujo na defesa que se ouve de governos fortes, ou da ordem como a principal virtude de uma sociedade, mesmo com o sacrifício de direitos e liberdades. Há um silogismo sujo à espreita sempre que se procura justificar os excessos de um regime repressivo com supostas realizações do regime, em repetidas tentativas de reescrever ou absolver o passado. Como no Brasil.)

A diáspora africana nos deu o samba, o jazz e todos os ritmos caribenhos, certo. O fascismo, o comunismo e outros ismos persecutórios mandaram grandes cabeças e talentos para as Américas. Basta lembrar o caso dos Estados Unidos, onde gente como Saul Steinberg, Billy Wilder e Vladimir Nabokov, para citar poucos, não teria tido a experiência do exílio e da realização artística no desterro se não tivesse que fugir de Hitler, de Mussolini e dos bolcheviques.

Mas, em vez da racionalização amoral de um silogismo sujo para conter esse paradoxo, deve-se pensar nele como efeito colateral da grande desarrumação da História. A História é explosiva, as explosões acabam com qualquer ideia de lógica ou simetria, logo vá entender.

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