Filho de Érico Veríssimo, um dos maiores nomes da literatura nacional, Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre, em 26 de setembro de 1936. Aos 16 anos, foi morar nos EUA, onde aprendeu a tocar saxofone, hábito que cultiva até hoje – tem um grupo, o Jazz 6. É jornalista, mas “do tempo em que não precisava de diploma para exercer a profissão”. Antes de se dedicar exclusivamente à literatura, trabalhou como revisor no jornal gaúcho Zero Hora, em fins de 1966, e atuou como tradutor, no Rio de Janeiro. Casado há mais de 30 anos com Lúcia Verissimo (“não é a atriz, não é a atriz!”), sua primeira “namorada séria”, tem três filhos: Fernanda, Mariana e Pedro.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Steinberg - Estadão, O Globo e Bom Dia (12/05/11)

O romeno Saul Steinberg chegou aos Estados Unidos fugido da Europa em guerra carregando uma coleção de papéis oficiais, documentos, salvo-condutos, rubricas e assinaturas, a maior parte - pelo menos era o que contava para os amigos - falsificada por ele mesmo. Era a representação gráfica de uma rota de fuga que passou por Itália, Espanha, Portugal, República Dominicana e até Brasil, antes de acabar em Nova York. Não admira que Steinberg gostasse de inventar assinaturas ultraelaboradas e timbres extravagantes e que carimbos falsos repetidamente adornassem seu trabalho - em alguns casos substituindo o sol. Ele fazia uma paródia da burocracia das fronteiras pelas quais tinha passado e ao mesmo tempo reduzia o trágico século 20, século de exilados e refugiados, ao seu puro encanto visual. A verdadeira arte do século, sugeria Steinberg, era a da ornamentação dos passaportes. 

Ele gostava de produzir papéis pseudo-oficiais - diplomas, certificados de premiação, passaportes completos - para os amigos, caprichando nas assinaturas pomposas e nos carimbos ininteligíveis. Era a sua maneira de ironizar o mundo protocolar e o oficialismo repressivo da época. Gostava de contar que tinha se tornado "Dottore in Architetura" em 1940 sob o regime fascista, e que no seu diploma, concedido em nome de Victor Emmanuel III, rei da Itália e da Albânia e, graças a Mussolini, imperador da Etiópia, estava escrito "Steinberg, Saul... de razza Ebraica" Numa entrevista à revista Time, disse: "Era uma espécie de precaução para o futuro, significando que embora fosse "dotore" eu poderia ser impedido de praticar já que sou judeu. A beleza disto para mim é que o diploma foi dado pelo rei, mas ele não é mais rei da Itália nem da Albânia. Não é sequer imperador da Etiópia. E eu não sou arquiteto. A única coisa que resta é a "razza Ebraica"". 


Como no caso de outro emigrado da cultura europeia, Vladimir Nabokov, os Estados Unidos provocaram em Steinberg repulsa e fascinação em doses iguais. O vazio das suas paisagens urbanas, a vulgaridade das suas matronas oxigenadas, o rococó inconsciente da Califórnia, a violência. E também a vitalidade, a criatividade, a generosidade com a arte. Na mesma entrevista para a Time, Steinberg declara que "Deve-se ver muito do meu trabalho como uma espécie de paródia de talento". Um dos mais hábeis artistas gráficos do mundo dizia que sua intenção era criar uma ficção de habilidade. 

Está para inaugurar uma mostra de Saul Steinberg no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro. É uma oportunidade para comprovar a modéstia do gênio. O parodista foi um fiel intérprete do seu tempo. Sua arte era tudo menos uma ficção.

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