Filho de Érico Veríssimo, um dos maiores nomes da literatura nacional, Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre, em 26 de setembro de 1936. Aos 16 anos, foi morar nos EUA, onde aprendeu a tocar saxofone, hábito que cultiva até hoje – tem um grupo, o Jazz 6. É jornalista, mas “do tempo em que não precisava de diploma para exercer a profissão”. Antes de se dedicar exclusivamente à literatura, trabalhou como revisor no jornal gaúcho Zero Hora, em fins de 1966, e atuou como tradutor, no Rio de Janeiro. Casado há mais de 30 anos com Lúcia Verissimo (“não é a atriz, não é a atriz!”), sua primeira “namorada séria”, tem três filhos: Fernanda, Mariana e Pedro.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sem ressentimentos - Estadão, O Globo e Bom Dia (19/05/11)

A melhor piada sobre a paixão dos franceses pelo Woody Allen foi feita pelo próprio Woody Allen. Naquele filme em que ele é um diretor que fica cego no meio das filmagens, continua a filmar mesmo sem enxergar nada e, claro, faz um filme que ninguém entende — a não ser os franceses, que descobrem significados ocultos no caos.

O filme termina com o diretor, ridicularizado pela crítica americana, embarcando para a França, onde será homenageado pela sua obra-prima.

Depois desta estocada satírica era de se esperar que os franceses ficassem magoados com Woody. Mas a paixão continua, sem ressentimentos. Ele foi convidado a apresentar seu último filme na inauguração do Festival de Cannes, fora de concurso, e os franceses o adoraram.

O filme, "Meia-noite em Paris", é uma louvação a tudo que Paris representou para os americanos de uma certa época, a "geração perdida" de Hemingway, Fitzgerald e etc., que fizeram da cidade o palco da sua afirmação artística e pessoal.

Allen já tinha homenageado outra Paris, a que Gene Kelly e Fred Astaire haviam usado como cenário das suas fantasias musicais, no filme "Everybody says I love you", culminando com uma dança à beira do Sena em que Woody e Goldie Hawn parodiavam Gene Kelly e Leslie Caron em "Um americano em Paris" e resumia todo o romantismo que a cidade inspirava.

Sem querer estragar o filme para quem ainda não viu, em "Meia-noite em Paris" Woody acompanha seu personagem principal numa viagem ao passado, a Paris pré-Segunda Guerra Mundial, em que ele encontra e convive com seus ídolos intelectuais, não apenas os americanos que giravam em torno de Gertrude Stein, mas gente como Picasso, Buñuel e até Salvador Dalí, numa ótima ponta de Adrien Brody.

O visitante do presente chega a interferir na vida destas personalidades (acalmando a Zelda Fitzgerald com um Valium, por exemplo). E como na época de ouro de qualquer lugar sempre se evoca uma época de ouro que houve antes, o personagem viaja para mais longe no tempo e conhece Toulouse Lautrec, Gauguin e outros — que também falam com saudade de uma época de ouro que passou.

Ele acaba voltando para o presente e a Paris de Carla Bruni, e comenta que o problema com a nostalgia de outros tempos é que as pessoas nem sempre se dão conta do que era a vida antes de existir, por exemplo, a anestesia. Mas o que Woody Allen quis fazer foi outra declaração de amor para eliminar todos os possíveis mal-entendidos. E dizer que em Paris todas as épocas são de ouro. Algumas só brilham mais do que outras.

(A melhor piada do filme, que não passa de um simpático conto de fadas: um detetive contratado para seguir o personagem na sua fuga ao passado se perde no tempo e se vê no século dezoito, dentro do palácio de um dos Luíses e sendo perseguido pela guarda real.)

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