Filho de Érico Veríssimo, um dos maiores nomes da literatura nacional, Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre, em 26 de setembro de 1936. Aos 16 anos, foi morar nos EUA, onde aprendeu a tocar saxofone, hábito que cultiva até hoje – tem um grupo, o Jazz 6. É jornalista, mas “do tempo em que não precisava de diploma para exercer a profissão”. Antes de se dedicar exclusivamente à literatura, trabalhou como revisor no jornal gaúcho Zero Hora, em fins de 1966, e atuou como tradutor, no Rio de Janeiro. Casado há mais de 30 anos com Lúcia Verissimo (“não é a atriz, não é a atriz!”), sua primeira “namorada séria”, tem três filhos: Fernanda, Mariana e Pedro.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Antigas namoradas - Crônica do Bom Dia (13/03/11)


   – Gugu! – exclamou o Plínio.A mulher pensou: pronto.O Plínio ficou gagá. 

   – Como eu fui me esquecer dela? A minha primeira namorada. Maria Augusta. Gugu. Nós tínhamos doze anos. O primeiro beijo na boca.

  Depois veio a ... a ... Sulamita!

  – Você namorou uma Sulamita?!

  – Espera. Preciso fazer uma lista. Plínio saiu atrás de papel e caneta. Pronto, pensou a mulher. O Plínio encontrou uma ocupação.

  – Vamos ver. Sulamita. Primeiro beijo de língua. Primeira mão no peito. Mas só por fora. Ela não queria fazer mais nada. Meu Deus, as negociações! As intermináveis negociações. Deixa. Não deixo. Pega aqui. Eu não. Só um pouquinho. Não. Sexo, sexo mesmo, ou uma simulação razoável, foi só com a seguinte, que se chamava... Não. Antes do sexo teve um anjo. A Liselote. Loira, magra, alta. Pele de alabastro. O que é mesmo alabastro?

  – Não sei, acho que é uma espécie de...

  – Não importa. A pele da Liselote era de alabastro. Namoramos durante anos. Um dia fizemos um pacto suicida mas eu levei tanto tempo para escrever o bilhete que ela achou que era má vontade e o namoro acabou. Depois da Liselote, então, veio o sexo animal! Com a, a ... Como era o nome dela? Marina. Não, Regina. Cristina. Isso, Cristina. Ficamos noivos. Um um dia ela me viu descascando uma laranja e teve uma crise. Por alguma razão, o meu jeito de descascar uma laranja desencadeou uma crise. Ela disse que não podia se imaginar casada comigo, com alguém que descascava laranja daquele jeito. Mandaram ela para a Europa, para ver se ela se recuperava. Nem sei se foi laranja. Alguma coisa que eu fazia. Depois dela, deixa ver... Mercedes. A boliviana. Baixinha. Grandes seios. Vivia cantarolando. Não parava de cantarolar. Um dia eu reclamei e ela atirou um vaso na minha cabeça. Depois, depois...

  – Não teve uma Isis?

  – Isis! Claro. Eu falei da Isis pra você? Era corretora de móveis. Bem mais velha do que eu. Foi quem me ajudou a escolher o escritório. Não chegou a ser namoro. Fizemos sexo de pé em várias salas vazias da cidade, e ela nunca chegou a tirar o vestido. Grande Isis... Olha aí, até que não foram muitas... Ah, teve uma, eu já contei? Uma que miava quando a gente estava na cama. Miava! Me chamava de “Meu gatão”, toda melosa, e miava. Já pensou, o ridículo? Como era o nome dela?

  – Era eu, Plínio.

  – O quê? Não. O que é isso?

  – Não era não. Que absurdo. Nós, inclusive, não transamos antes de casar.

  – Transamos, namoramos, e eu miava porque você pedia. Era eu, Plínio. Bota o meu nome na sua lista.

  – Não. Nem sei por que eu comecei esta bobagem...

  – E quer saber de uma coisa? Não é o seu modo de descascar laranja, Plínio. É o seu modo de chupar laranja. A Cristina tinha razão. Não sei como eu aguentei todos estes anos. A Cristina tinha razão!

0 comentários:

Postar um comentário