Porque eram precavidos, porque queriam que sua união desse certo, e principalmente porque eram advogados, decidiram fazer um contrato nupcial. Um instrumento particular, só entre os dois, separado das formalidades usuais de um casamento civil. Nele estariam explicitados os deveres e os compromissos de cada um até que a morte — ou o descumprimento de qualquer uma das cláusulas — os separasse.
Quando chegaram à parte do contrato que trataria da fidelidade, ele ponderou que a cláusula deveria ter uma certa flexibilidade. Deveria prever circunstâncias aleatórias, heterodoxas e atenuantes. Em outras palavras, oportunidades imperdíveis. E exemplificou.
- Digamos que eu fique preso num elevador com a Luana Piovani. Depois de dez, quinze minutos, ela diz “Calor, né?”, e desabotoa a blusa. Mais dez minutos e ela tira toda a roupa. Mais cinco minutos e ela diz “Não adiantou”, e começa a desabotoar a minha blusa... O contrato deveria prever que, em casos assim, eu estaria automaticamente liberado dos seus termos restritivos.
Ela concordou, em tese, mas argumentou que a licença pleiteada deveria ser específica, rechaçando a sugestão dele de que se referisse genericamente a “Luana Piovani ou similar”. Ficou decidido que ele estaria automaticamente liberado da obrigação contratual de ser fiel a ela no caso de ficar preso num elevador com a Patrícia Pillar, a Luma de Oliveira ou uma das duas (ou as duas) moças do “Tchan”, além da Luana Piovani, se o socorro demorasse mais de vinte minutos. Isto estabelecido, ela disse:
- No meu caso...
- Como, no seu caso?
- No caso de eu ficar presa num elevador com alguém.
- Quem, por exemplo?
- Sei lá. O Maurício Mattar. O Antônio Fagundes. O Odvan...
- O Odvan não!
Foi uma negociação longa e difícil, durante a qual ele vetou vários nomes, até ser obrigado a concordar com um, por absoluta falta de argumentos. Ela estaria liberada de ser fiel a ele se um dia ficasse presa num elevador com o Chico Buarque. Mas só com o Chico Buarque. E só se o socorro demorasse mais de uma hora!
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