Filho de Érico Veríssimo, um dos maiores nomes da literatura nacional, Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre, em 26 de setembro de 1936. Aos 16 anos, foi morar nos EUA, onde aprendeu a tocar saxofone, hábito que cultiva até hoje – tem um grupo, o Jazz 6. É jornalista, mas “do tempo em que não precisava de diploma para exercer a profissão”. Antes de se dedicar exclusivamente à literatura, trabalhou como revisor no jornal gaúcho Zero Hora, em fins de 1966, e atuou como tradutor, no Rio de Janeiro. Casado há mais de 30 anos com Lúcia Verissimo (“não é a atriz, não é a atriz!”), sua primeira “namorada séria”, tem três filhos: Fernanda, Mariana e Pedro.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Jane Russel - Crônica do Estadão (13/03/11)

A Jane Russel morreu na semana passada. Atriz americana. Morena. Bonita. Grandes seios. Entrou no cinema, por assim dizer, pelos seios. O excêntrico empresário e produtor de cinema Howard Hughes avistou seus seios na rua e decidiu contratá-los na hora. Os seios eram perfeitos mas Hughes achou que podia melhorar sua exposição. Ele desenhava aviões, tratou de inventar um soutien apropriadamente aerodinâmico para sustentar os seios da Jane Russel. Depois de meses de pesquisa o soutien ficou pronto e Jane e seus seios foram apresentados ao público. Seu primeiro filme, produzido e dirigido por Hughes, se chamava The Outlaw, o fora da lei. Foi uma sensação.
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Um filme histórico. Não apenas pela franca exploração dos grandes seios da atriz, cujo decote dominava todos os cartazes, mas principalmente pela cena em que Jane Russel decide ajudar o fora da lei a se curar de uma tremedeira, não me lembro se causada por gripe, pneumonia ou tiro, e deita-se com ele na cama. Não acontece nada entre os dois, Jane só usa seu corpo para fins terapêuticos. Mas a ideia do calor daqueles grandes peitos reanimando o caubói prostrado causou escândalo, numa época em que nem casados podiam aparecer nos filmes ocupando a mesma cama. O filme de Hughes quase foi proibido. Ele teve que cortar cenas - presumivelmente de excesso de protuberância dos peitos pioneiros - para que fosse liberado.
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Anos antes, outro filme tinha causado sensação porque o Clark Gable, despedindo-se calhordamente da Scarlett O"Hara em E o Vento Levou, dizia, referindo-se a seus problemas, "Frankly, my dear, I don"t give a damn". Em português inócuo "francamente, minha querida, eu não dou a mínima", mas no original a primeira vez que se ouviu no cinema a palavra "damn", maldição, uma profanidade, como "Deus", "Jesus"ou "inferno" usados como expletivos. Anos depois outro filme, acho que do Otto Preminger, também se tornou histórico porque nele uma personagem se declarava virgem. A não ser para descrever a mãe de Jesus - e desconfio que nem então - a palavra "virgem" nunca tinha sido dita num filme americano. Fui ver o filme quando ele saiu nos Estados Unidos em 1953 e lembro do murmúrio de risos abafados que percorreu a plateia na única vez em que a mocinha confessou sua condição.
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Compare-se tudo isso com os seios nus que pululam, se este é o termo, e na palavra "fucking" usada como interjeição obrigatória em qualquer diálogo, no atual cinema americano.

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