Filho de Érico Veríssimo, um dos maiores nomes da literatura nacional, Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre, em 26 de setembro de 1936. Aos 16 anos, foi morar nos EUA, onde aprendeu a tocar saxofone, hábito que cultiva até hoje – tem um grupo, o Jazz 6. É jornalista, mas “do tempo em que não precisava de diploma para exercer a profissão”. Antes de se dedicar exclusivamente à literatura, trabalhou como revisor no jornal gaúcho Zero Hora, em fins de 1966, e atuou como tradutor, no Rio de Janeiro. Casado há mais de 30 anos com Lúcia Verissimo (“não é a atriz, não é a atriz!”), sua primeira “namorada séria”, tem três filhos: Fernanda, Mariana e Pedro.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Infalibilidade - Crônica semanal do Estadão e do Bom Dia (24/02/11)

Os reis estão mais seguros do que os ditadores no norte da África e no Oriente Médio. No Marrocos e na Jordânia, pelo que se lê, a queda dos reis não está entre as reivindicações principais da rua. A revolta está custando a chegar à Arábia Saudita, protótipo de autocracia absoluta na região, e o poder dos aiatolás iranianos não parece estar ameaçado, por enquanto. Já os ditadores estão caindo um a um, como jacas. Governavam como reis mas sem a autorização divina, eram reis ilegítimos. Assim, curiosamente, ao mesmo tempo que dá um belo exemplo de conquista popular de democracia e modernidade, a sublevação endossa, indiretamente, a monarquia. 

Constantino, que transformou o cristianismo de uma seita clandestina na religião oficial do seu império, escreveu certa vez numa carta que sua conversão tinha sido bem recompensada. "Recebemos da Providência Divina o supremo favor de estarmos eternamente livres de qualquer erro." Os ditadores costumam acreditar que junto com o poder absoluto vem, implícito, no pacote, os favores que a Providência Divina concede de nascença aos reis, começando pela infalibilidade. Mas não funciona assim.

Para-infernália. É pura implicância, eu sei. Mas tenho tanta antipatia por toda essa para-infernália eletrônica que, enquanto nos facilita a vida, nos escraviza e nos humilha que vibro a cada notícia de sua desmoralização, por menor que seja. Comemoro cada nova prova de que ela não é infalível. Agora mesmo surgiu um supercomputador, chamado Watson, que venceu dois humanos jogando Jeopardy na televisão americana. Jeopardy é um jogo de respostas que testa a memória e o conhecimento, e a capacidade do Watson de armazenar informação, reconhecer a informação que corresponde à pergunta e enunciá-la antes dos humanos representa um grande avanço sobre os computadores que, por exemplo, derrotavam campeões de xadrez, mas com os quais não se podia ter uma boa conversa sobre filmes, livros, a vida alheia, etc. O Watson não, o Watson sabe tudo. Leu tudo, viu tudo - mas (arrá!) tem uma falha. O Watson às vezes tem dificuldade em contextualizar. É o que seus construtores chamam de Síndrome de Paris Hilton. Se você alimentá-lo apenas com as palavras "Paris Hilton" o Watson se confunde, não sabe se a referência é ao hotel Hilton de Paris ou à herdeira maluquete dos Hilton, Paris. E é capaz de ficar mudo para não dar vexame. Um pequeno defeito para um computador, mas uma grande vitória para a humanidade. Eu não conseguiria vencer um computador nem num jogo de damas mas jamais confundiria a Paris Hilton com um hotel. Ou vice-versa. 

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