Filho de Érico Veríssimo, um dos maiores nomes da literatura nacional, Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre, em 26 de setembro de 1936. Aos 16 anos, foi morar nos EUA, onde aprendeu a tocar saxofone, hábito que cultiva até hoje – tem um grupo, o Jazz 6. É jornalista, mas “do tempo em que não precisava de diploma para exercer a profissão”. Antes de se dedicar exclusivamente à literatura, trabalhou como revisor no jornal gaúcho Zero Hora, em fins de 1966, e atuou como tradutor, no Rio de Janeiro. Casado há mais de 30 anos com Lúcia Verissimo (“não é a atriz, não é a atriz!”), sua primeira “namorada séria”, tem três filhos: Fernanda, Mariana e Pedro.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Chineses (I)

   Você já pensou, seriamente, nos chineses? No tempo que levou para escrever esta frase, nasceram dezessete chineses. Até o fim desta crônica nascerão mais mil. Quando você chegar no fim do jornal, serão cinquenta mil chineses novos no mundo, esperneando e exigindo leite. E não há nada que você possa fazer a respeito. (Ler o jornal mais ligeiro não adianta.) Pense nas consequências. Os problemas de fron­teira entre a China e a União Soviética aumentarão, pois bastará um chinês respirar mais fundo e a China invade a Mongólia. Os hindus também estão se re­produzindo geometricamente — isto é, em escala geométrica, o método ainda é o mesmo de sempre — mas na índia, pelo menos, o governo se esforça para conter o pessoal. Na China a procriação é estimulada. Vamo lá! Vamo lá! Quando o velho disse que todo o poder sai da ponta de um fuzil ele estava sendo mais metafórico do que de costume. A China não vai precisar da bomba para derrotar o Ocidente. Eles vão nos ganhar no empurrão. Quando, no Pentágono, se derem conta da coisa e correrem para disparar os foguetes, será tarde demais. Haverá uma comunidade chinesa acampada na Sala de Guerra, no caminho do botão. Eles vão nos derrubar no calço!
   Pense nas consequências. O mundo cheio de chineses. Toca o despertador na casa de uma típica família classe média em algum subúrbio do Oci­dente.
   — Querida...
   — Sim?
   — Pede para o chinês do teu lado desligar o despertador. Está na hora de levantar. .. Com licença, com licença. . .
   Mais tarde:
   — Olha, os chineses do chuveiro estão começando a reclamar.
   — O que foi?
   — Dizem que um banho por dia por pessoa da família é demais. Eles estão se molhando quatro vezes por dia, não conseguem secar a roupa. . . Onde estão as minhas calças?
   — No guarda-roupa, atrás do chinês da esquerda.
   — O baixinho?
   — Não, o outro. O baixinho nós botamos no armário das crianças, você não se lembra?
   — E os meus sapatos?
   — Embaixo da cama.
   — Deixa ver. Ah! Te peguei! Adúltera!
   — Como?
   — Há um homem estranho embaixo da cama!
   — São os quatro chineses de sempre...
   — Hoje são cinco. E um não é chinês!
   Em outras chinês palavras chinês os chineses estarão por toda a chinês parte chinês chinês chinês. Você chinês chinês não chinês poderá chinês dar um passo chinês chinês sem esbarrar num chinês chinês chinês chinês esbarrando em outro chinês chinês chinês chinês ou num hindu.

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